julho 19, 2013

Centauro

As doses de whisky desciam doces e quentes pela minha garganta.
Era meu predileto, Jameson.
Completamente fora do comum encontra-lo em qualquer lugar que não fosse em uma garrafa em casa.
Clube do whisky, pensei.
Estava eu em um Pub, meio rock n' roll, mas sem rock n' roll nenhum.
As musicas eram melosas, e o whisky descia quente pela minha garganta, havia uma cabine telefônica inglesa, e um telão com futebol, uma escadaria que crescia a cada dose que eu tomava.
Whisky quente e aquele calor foi aquecendo minha garganta, meu toráx e todos os órgão envolvidos nessa região.
Eu tinha dado um basta naquela história. Aquele meu " homem da máscara de ferro" ja tinha tomado de mim todas as doses que eu tinha a oferecer, minha garrafa estava vazia,meu estômago e meu copo também.
Mais uma dose, cada uma vinham duas, cada duas vinham quatro, musica melosa, e uma mensagem.
A mensagem não foi minha, mas foi pra mim.
Teria o cavaleiro caído do cavalo? Não sei, vamos averiguar.
Copo cheio, estômago vazio, e mais mensagens.
Coração se aquecendo, meu Deus seria o whisky ou o que?
Meia dose, uma dose, uma garrafa inteira de mim se enchendo como um refil magico de esperança.
Eu ja não estava em mim, será que ele teria caído em si?
Disse... desmanchei-me em palavras doces, sussurros em letras, carinhos em curvas, o que eu teria a perder?
Absolutamente nada, eu ja tinha feito tudo, uma decisão minha feita por mim, e para mim.
Mas era tão dificil resistir aquele carinho disfarçado de eu não me importo, aquela saudade disfarçada de não preciso de ninguém.
Ou será que eu quis acreditar que fosse assim, sentir sem sentimento, era tudo que me podia ser oferecido?
Mais doses, menos garrafa, e eu já transbordava em amor, um amor que nem mesmo eu sabia que sentia, e que com certeza me traria dores de cabeça no dia seguinte.
Fecha o Pub, adeus whisky, ola coração.
Me perco nas batidas latinas da musica no carro, na tontura, de tantas idéias mirabolantes que me passam pela cabeça, que de oca nunca teve nada.
Cheguei a me animar com a idéia de talvez sentir algo outra vez... já faz tanto tempo.
Tantos galanteios e flores morrendo em vasos, em vão. Nada daquilo me fazia sentir.
Será que o cavaleiro havia caído do cavalo?
 Pois então que vem o dia seguinte, e o sono, e a preocupação, e a dor de cabeça e no fígado que, convenhamos, ja não anda dos melhores.
O alcool que eu ingiro me cura as dores da alma mas adoece todo o resto da carne. Paciência.
A carne é finita e a alma eterna, se algo tem que chegar em bom estado em algum lugar é o espirito, pois que assim seja. Continuemos...
Dia seguinte, e todas as dores devidamente descritas, eis que surge uma questão, depois de tudo que foi dito, por quê?
E como nunca fui mulher de dúvidas, muito pelo contrário, tenho certeza até quando não sei, resolvi questionar meu reluzente cavaleiro, mas era tarde demais.
Sua armadura ja estava posta, sua espada empunhada para cortar meu coração, que ainda estava aquecido, ao meio.
Será que ele caiu do cavalo?
Evidente que não, suas patas estão grudadas à sua cintura como um centauro.
A única diferença é que dessa vez, após o corte, meu coração ao meio, não sangrou.

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