julho 12, 2013

Ayuni (Cartas à um beduíno)



[...]
Não podia, não queria.

Abraçava-o com força, tentando transpor meu coração para seu peito, para que assim fosse capaz de sentir.
Na esperança de realmente tocá-lo de alguma forma,me engoli por inumeras vezes.
Eu queria ensiná-lo a amar, e acabei me ensinando.
Ele era inalcansável, intocável, tão meu e tão distante, tão perto e tão sozinho.
Seu coração há tanto fora substituido por quatro patas galopantes e um peito forte.
Não era a prova de balas, mas era a prova de amor.
E eu que por tanto tive meus olhos vagantes, perdidos no infinito.
E portantos e poréns, quiseram por vez, mais de uma vez, tudo aquilo que ele conquistou e não vê.
Não vê porque também tem os olhos vagantes, perdidos em um além, além de mim.
Me mantém aquecida e me faz sentir frio, como dia e noite no deserto.
Como respirar, me ter era um ato inato, mais forte que qualquer tempestade de areia.
Eu tinha que deixa-lo ir, eu tinha que me despedir.
Maktub eles diziam.
Mas eu não conseguia. Eu não podia.
Qua falta  me fariam seus trajes azuis, e sua sombra ao horizonte, às vezes vindo, por outras indo.
Seu cheiro de noz moscada me mantinha embriagada, e a lua sorria pra nós, como nossa confidente.
Tão certo quanto o sol que se põe, e se levanta no dia seguinte, ele voltaria.
E não havia água que saciaria minha sede.
Maktub, eles dizem.
Eu encontrei o meu ayuni.

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